Uma revolução chamada puerpério

Uma revolução chamada puerpério

Eu decidi ser mãe. E planejei ser mãe. Esperamos o tempo que nos pareceu oportuno para curtir a vida a dois e afiançar o casamento. De comum acordo deixamos os anticoncepcionais. O corpo eliminou os hormônios sintéticos. Meu ciclo verdadeiro apareceu. Sentei, fiz cálculos, agendamos uma viagem romântica. Concebi, gestei, amei a gravidez, pari. E lá estava eu na cama com um bebê lindo e saudável nos braços, depois de quatro noites sem dormir, os peitos cheios e ardidos, sem poder sentar direito por causa dos pontos da episio (um relato à parte) extremamente arrependida de ter decidido ser mãe. Lamentando a vida que tinha ficado para trás e o fato de não ter um botão “desfazer” para apertar e tentar uma outra opção menos traumática.

O puerpério é mesmo uma fase complicada de revolução hormonal, cansaço extremo, de lidar ao mesmo tempo com morte e nascimento. O amor maternal que tanto ouvi falar era estranho para mim. Tinha sobressaltos cada vez que entrava no quarto e via aquele pacotinho deitado na cama no meio de um quadrilátero de travesseiros. A ficha demorou a cair. Eu me tornei mãe e agora tinha um ser totalmente dependente de mim 24h por dia. Que pensamento assustador! Eu nunca mais seria a mesma.

Minha mãe, que tinha vindo ficar comigo, foi embora e eu chorei um dia inteiro. Achei que não ia dar conta sozinha. Que nunca seria uma mãe à altura. Que não saberia o que fazer nas situações completamente novas e desconhecidas que se apresentavam dia após dia. O bebê chorava e eu chorava junto, assumindo minha total desorientação diante da maternidade e suas implicações.

Mas graças a Deus essa fase passou. Aquele serzinho que a princípio só funcionava nas funções chorar, mamar e sujar fraldas, de repente aprendeu a trocar olhares, sorrir, balbuciar. O agir instintivo que me levava a realizar mecanicamente as tarefas e cuidados em relação ao bebê, foram pouco a pouco dando lugar a sentimentos de carinho, ternura e afeto.

Descobri que não podia dar conta de tudo, e que tudo bem que fosse assim. Na maternidade precisamos escolher as prioridades e as batalhas que vamos enfrentar. O resto fica para quando der, se der. Fomos nos conhecendo, nos entendendo, começamos a curtir um ao outro. O amor maternal existe mas está longe de ser algo instantâneo ou automático como dizem por aí. Ele faz parte de um processo. Porque se bem é verdade que nos enfrentamos à morte e ao nascimento, também vivenciamos uma espécie de renascimento. A descoberta de um novo eu como nunca antes imaginamos.

A maternidade nos transforma, nos demanda o tempo todo, nos exaure. Mas ela também nos faz experimentar o amor que é mais forte e puro do que tudo que existe. Ela nos concede uma incrível capacidade de superação. Nos revela aptidões e habilidades até então desconhecidas. E a gente termina gostando tanto, que decidimos voluntariamente passar por tudo outra vez. Embora a experiência de maternar seja única, assim como únicos são os indivíduos, mesmos os nascidos na mesma família e os gêmeos, algo aprendemos dela. O mais importante é saber se perdoar diariamente, se dar uma nova chance e nunca desistir de tentar ser a melhor mãe que podemos ser.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

[Na foto de 2012, eu e o Fernando ainda nos conhecendo. Seus primeiros dias de vida e meus primeiros dias de ser mãe.]

Texto originalmente publicado na minha conta do Facebook em 29 de outubro de 2017.

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